A Formação da PM do Rio - Matéria sobre o treinamento dos soldados da PM-RJ

Moretti escreveu:

A Formação da PM do Rio
Jornalista Diana Figueiredo

A serviço da sociedade, após seis meses, muitos exercícios físicos, novidades e 300 tiros

Publicada na Folha Dirigida, em 10 de junho de 2010

Uma das principais críticas à Polícia Militar do Rio de Janeiro é que os soldados são mal treinados, mas basta um dia no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), em Sulacap, para verificar que o curso de capacitação é puxado e voltado para o dia a dia dos policiais. Durante seis meses os candidatos têm aulas teóricas e práticas, das 7 às 17 ou 18 horas, de segunda a sexta-feira.

O comandante do Cfap, coronel Josiel Havani dos Santos, conta que a primeira aula é a de educação física. Depois de suarem a camisa, os candidatos vestem a farda e têm as aulas teóricas. “Há verificações correntes, verificações finais e suplementares. Por isso, não temos tido problemas com reprovações. Quando detectamos que alguém está com notas baixas, vai para o estudo obrigatório, depois do expediente”, contou o coronel.

Há quase um ano à frente do Cfap, o coronel informa que foram feitas algumas alterações no treino. “Incluímos algumas disciplinas, e o estágio, que era feito no sexto mês, passou para os fins de semana. Intensificamos a educação física e acrescentamos Direito Constitucional, Direito Penal Militar e Práticas Operacionais da PM”. Enquanto outras polícias investem em cursos de formação de um a dois anos, no Rio o candidato está apto após seis meses de treino, mas o coronel Havani conta que há projetos para aumentar esse período.

“Precisamos de mais tempo, mas o que é ensinado aqui atende às necessidades. Queremos melhorar, e o comando da corporação está atento a isso, para beneficiar a formação do policial e o serviço prestado à comunidade.” Para que a corporação consiga admitir mais policiais, conforme determina o caderno de encargos dos Jogos Olímpicos de 2016, o Cfap está sendo ampliado. Estão sendo construídas mais duas companhias, uma seguindo o modelo de uma Unidade de Pronto-Atendimento, com capacidade para formar 1.500 policiais, e outra, de concreto, para 1.200. Assim, a capacidade de formação passará de 1.900 para 4.600 alunos por semestre.

Entre as novidades, os alunos passaram a ter a instrução, na qual aprendem como agir em situações-limite. Ou seja, como estar atento à legalidade (agir em legítima defesa) e a oportunidade para atuar. Estar atento às novas tecnologias também faz parte da formação. Nas aulas de Noções de Telecomunicações, com carga de 12 horas, o candidato aprende a fazer contato com a sala de operações, utilizar o teclado de SMS, o vocabulário de rádio, como funciona o despacho das viaturas, e também são feitas simulações com equipamentos.”É importante para os soldados conhecerem os meios de comunicação que a gente possui na corporação e empregar o vocabulário do padrão do rádio da corporação”, conta o sargento Wilson Pimentel, que ministra o curso.

Na aula de Defesa Pessoal os policiais aprendem, por exemplo, a se defender e a imobilizar, assim como técnicas de algemação, agarramento e revista. Já a Defesa Policial Militar é uma disciplina que se preocupa com a defesa do policial durante o serviço, com duração de 20 horas práticas e teóricas. “Ele aprendem a fazer um levantamento tático (como cair sem se machucar) e diversas situações pelas quais poderão passar no confronto. Queremos chegar o mais próximo possível da realidade, e tentamos alcançar toda a vida do policial, como a preocupação com o armamento e a manutenção”, salienta o sargento Antônio Guimarães, responsável pela disciplina.

Durante o curso, os alunos dão cerca de 300 tiros dos mais diversos calibres em 80 horas de aulas, na matéria Tiro, e outras 62 horas na de armamento. Segundo o instrutor Igor Zander, em Armamento o candidato aprende a fazer a manutenção e o manuseio das armas, enquanto nas aulas de tiro há instruções com todos as armas utilizadas pela corporação. “Aprendem a efetuar o disparo e também segurança com o armamento. Essas são as duas matérias que têm maior carga horária do treinamento. Os alunos saem daqui capacitados e com plena consciência do que estão fazendo”, assegura o instrutor.

Durante o treino, a corporação procura aproximar a capacitação à realidade. As aulas de progressão em terreno e incursão, por exemplo, são feitas em uma cidadela construída nos moldes das favelas cariocas. Segundo o coronel Havani, os policiais enfrentam muitas dificuldades, mas a profissão é bastante gratificante. “Ser funcionário público como o policial militar tem alguns obstáculos, como a não compreensão da população do trabalho do polícia. A mídia esquece o serviço bom que é feito pela corporação, e o salário ainda não é o ideal, mas ser policial é muito gratificante”, conclui.

No dia do aniversário, o primeiro tiro de fuzil

A estudante de Pedagogia Vanessa Alves da Silva Bandeira completou 23 anos no último dia 8, mas a comemoração teve que ser adiada porque a jovem é uma das candidatas a soldado da Polícia Militar. Mesmo passando o aniversário dentro do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), Vanessa estava radiante. “Estou muito feliz, e não tem problema estar aqui no treinamento”, contou, durante sua primeira aula de tiro de fuzil.

Vanessa pretende seguir a carreira, assim como o pai, que era policial rodoviário federal. “Minha ideia inicial era prestar o concurso para oficial, mas estou aqui para somar com a polícia. A cada dia gosto mais da vida militar. Acredito na Polícia e queria fazer parte de uma corporação de que tenho orgulho”, disse.

Em dois meses de curso, o mais puxado para a recruta são as aulas de educação física. “É difícil para se adaptar, mas sei que mais para a frente compensará, porque vou ganhar um bom condicionamento”, avalia, ressaltando que a hierarquia e a disciplina também são parte fundamental da vida militar.

Antes de ser aprovada em seu primeiro concurso para a PM, Vanessa era funcionária da Secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro. Agora, ela recomenda que todos façam a seleção. “Quem está pensando em ser policial tem que ter muita disciplina, responsabilidade e honestidade, porque aqui essas são as regras. Temos que honrar a farda. Faço votos para que todos venham, especialmente as mulheres, porque o militarismo não é só para homens”, acredita.

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